Para advogada, estilo de vida da Faria Lima não fazia mais sentido

Ilha do Combu Belém Pará

Uma advogada ambiental na Amazônia

Letícia Yumi Marques*

 

Confira também entrevista de Letícia Yumi Marques à CLIMÁTICA

 

Por 20 anos, atuei em escritórios de advocacia de renome em São Paulo. Minha experiência com a advocacia corporativa começou ainda no estágio, em 2004, e se encerrou em 28 de fevereiro de 2024, quando deixei o escritório em que atuei como head da área ambiental por 4 anos.

 

Em todos esses anos, atuei exclusivamente na área jurídica ambiental, muito especializada. No mesmo 28 de fevereiro, à noite, em uma festa no Rosewood, recebi o prêmio de Rising Star of The Year 2024 na categoria Environment, concedido pela publicação inglesa The Legal 500 a partir da votação de clientes, da qualidade do atendimento e da complexidade dos casos conduzidos. Posso dizer que fechei esse ciclo da minha carreira com chave de ouro, com muita gratidão pelo que vivi e ávida pela mudança.

 

A decisão de deixar esse formato de advocacia foi pensada e repensada desde o ano anterior e ganhou força durante minhas férias de janeiro, em Cusco. De alguma forma, o Direito Ambiental do dia a dia não me empolgava mais e o estilo de vida da Faria Lima se tornou, ao menos para mim, sem sentido. A resolução aconteceu ali, mas o plano era esperar até a metade do ano. Porém, o desfecho foi antecipado por minha aprovação no Doutorado em Direito na Universidade Federal do Pará (UFPA) e por minha mudança para Belém.

 

Eu escolhi participar do processo de seleção da UFPA por duas razões: meu título de Mestra em Ciências da Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP) era aceito para ingresso no doutorado em Direito e queria estar perto da COP. Não haveria lugar melhor do que Belém para desenvolver minha pesquisa sobre litigância climática. Como dizia, em tom de ironia, a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, é muito fácil defender a Amazônia de dentro de um apartamento nos Jardins, em São Paulo. Eu sabia que, para que minha pesquisa tivesse legitimidade, eu precisaria sair da bolha do condado.

 

Vendi todas as minhas coisas em São Paulo e voei para Belém com meus dois cachorros, os salsichas Baleia e Bidu, algumas roupas e livros. Cheguei em 12 de março, uma terça-feira. A adaptação à cultura tem sido mais desafiadora que a adaptação ao clima abafado da cidade. A alimentação muda, os cuidados com pele e cabelo mudam, o ritmo de vida muda e o relacionamento com as pessoas também. O forte do paraense realmente não é o serviço nos estabelecimentos comerciais e as pessoas, em geral, não se mantêm à direita nas escadas rolantes, mas fui muito bem recebida por onde passei e, desde que cheguei, consigo dormir com mais qualidade. Da varanda do meu apartamento alugado, consigo ver a Baia do Guajará — um privilégio para quem veio de São Paulo, onde não se pode sequer enxergar a linha do horizonte.

 

Belém tem, certamente, muitas questões sociais a serem enfrentadas e torço para que a COP deixe um legado positivo para a cidade. Estarei aqui pelos próximos 2 anos para ver isso tudo de perto.

 

*Letícia Yumi Marques é doutoranda em Direito (UFPA), mestra em Sustentabilidade (USP), especialista em Direito Ambiental (Mackenzie), pós-graduada em Direitos dos Animais (Universidade de Lisboa) e em ESG na Prática: Diversidade e Inclusão nas Empresas (FGV-Law) e bacharel em Direito (PUC-SP). Vencedora do prêmio Rising Star of The Year 2024 – Environment, da publicação inglesa The Legal 500, hoje atua como professora nos cursos de extensão da Universidade Presbiteriana Mackenzie e como advogada

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