Ailton Krenak é primeiro indígena da Academia Brasileira de Letras

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Foto: Bel Pedrosa (reprodução/Instagram)

 

Cento e vinte sete anos depois de sua fundação, a Academia Brasileira de Letras (ABL) ganhou neste sábado (6) o seu primeiro imortal indígena. Ailton Krenak foi eleito por 23 votos dos membros, superando a historiadora Mary del Priore e o escritor (também indígena) Daniel Mundukuru.

 

Escritor, jornalista, poeta, filósofo e ativista ambiental, o minero Ailton krenak foi eleito para a cadeira 5, que antes pertencia ao cientista político e historiador (também mineiro) José Murilo de Carvalho, morto em 2023. “Eu espero que o Brasil inteiro, que todos os brasileiros possam entender que estamos virando uma página. Uma página da relação da Academia Brasileira de Letras com os povos originários”, disse Krenak.

 

 

Krenak nasceu em 1953 em Itabirinha, Minas Gerais, na região do Médio Rio Doce. Aos dezessete anos, se mudou com a família para o Paraná, onde se alfabetizou e se tornou produtor gráfico e jornalista. “Eu venho (para a ABL) para trazer línguas nativas do Brasil para um ambiente que faz a expansão da lusofonia. A Academia Brasileira de Letras é portuguesa e eu trago para cá as línguas indígenas, eu acho que isso faz uma diferença muito grande na história do Brasil”, afirmou o autor de Ideias para Adiar o Fim do Mundo, uma das obras mais vendidas no Brasil, traduzida para mais de 10 idiomas, e de outros ensaios, como A Vida não é Útil e Futuro Ancestral.

 

A partir dos anos 1980, Krenak passou a se dedicar exclusivamente ao movimento indígena. Em 1988, participou da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição Brasileira, na qual protagonizou uma das cenas mais marcantes da História do Brasil: em discurso na tribuna, pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo, seguindo o costume indígena de protestar contra o que considerava um retrocesso.

 

 

Em entrevista ao Nexo em 2019, Krenak questiona a narrativa do indígena aculturado e integrado à ideia geral de nação. “Nesses últimos 30 anos, nós ocupamos aqueles lugares que estavam apagados da nossa presença com uma visibilidade inquestionável. Ninguém tem a cara de pau de dizer que os índios estão na contagem regressiva, o que nos anima a dizer o seguinte: que enquanto tiver gente por aqui, nós estamos aqui”.

 

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